Médica cria projeto no CE para devolver a visão gratuitamente a crianças em vulnerabilidade social

Escrito por Diego Barbosa, diego.barbosa@svm.com.br 14:05 / 17 de Setembro de 2024.

Doutora Islane Verçosa é idealizadora do Projeto Social Caviver, com mil procedimentos cirúrgicos gratuitos completados no último mês de agosto e histórias emocionantes a cada novo paciente

Doutora Islane feliz da vida ao realizar mais uma consulta no Projeto Social Caviver

Enxergar não é só com o olho. Doutora Islane Verçosa vê com a alma. Gosta de saber que a gente nasce enlaçado com algum propósito. O dela está claro desde 1992, quando criou um núcleo de Habilitação e Reabilitação Visual no Instituto dos Cegos do Ceará. Ali iniciava a trajetória do Projeto Social Caviver, ação tão bonita quanto importante. Boa de contar.

Tudo começou quando a médica oftalmologista cearense percebeu que muitas crianças chegavam a perder a visão por não terem oportunidade de tratamento adequado e a tempo nos sistemas de assistência de saúde ofertados à época – coisa comum e muito triste. Desta feita, uniu-se ao terapeuta ocupacional Jean Hipólito para desenhar outro mundo.

“Além de desenvolver um núcleo no Instituto dos Cegos, reavaliamos todos os pacientes assistidos para saber o motivo de estarem cegos. A partir dos resultados, notamos que 50% deles poderiam não ser cegos se tivessem tido chance de realizar o tratamento adequado em tempo oportuno”. O resto é história.

Sofia e a mãe antes de entrar no Centro Cirúrgico do Caviver
aciente Caviver, idealizado pela Doutora Islane Ferçosa, em tratamento de Prevenção à Cegueira Infantil

Não apenas uma, mas várias. À memória da médica, chegam nomes como o de Sofia. A menina nasceu com catarata e microftalmia – tamanho diferenciado da córnea –, motivo pelo qual a mãe sofria por não ter tido o contato visual da filha nos primeiros meses de vida. A rápida ação do Caviver colaborou para que o panorama fosse outro. Tempos depois, a mãe chorou, mas foi de ternura: Sofia olhava para ela pela primeira vez.

Chega também o nome de Ruan, que desenvolveu catarata bilateral – ou seja, em ambos os olhos – após a mãe, ainda em gestação, ter escorregado enquanto lavava roupa no rio. Segunda ela, depois do nascimento, escorria um líquido roxo dos olhos do pequeno. “Meses depois, a mãe percebeu também duas manchas brancas bem no meio dos olhos da criança. Isso explicava por que ele não estava conseguindo enxergar e se desenvolver na vida”.

Hora de o Caviver entrar de novo em ação e mudar tudo. Não à toa, um dos grandes objetivos do projeto é diminuir a barreira de acessibilidade por meio de profissionais e do apoio das campanhas de doação tocadas por pessoas físicas e jurídicas. Tem dado certo. 

“A trajetória do Caviver traz histórias emocionantes que ressignificam, inclusive, nosso existir. As famílias são incansáveis e, mesmo com diferentes barreiras, conseguem transpor desafios e alcançar aquilo que tanto almejam para os próprios filhos”, alegra-se a Doutora.

O menino Ruan em consulta oftalmológica
Momento pós-cirúrgico no Caviver

Hoje a ação atende uma média de 500 crianças por ano. Além disso, existe o benefício da Assistência Social Caviver, voltado para aqueles de 0 a 15 anos em situação de vulnerabilidade social com alguma possibilidade de cegueira por Catarata, Glaucoma e/ou Retinopatia da Prematuridade. Desde a idealização do projeto, a ideia do atendimento gratuito sempre foi prioridade.

Os serviços são de graça para crianças integrantes do Perfil Social. Elas são beneficiadas com acolhimento, acuidade visual, consulta oftalmológica, cirurgia, habilitação e reabilitação e apoio na social e emocional com profissionais das áreas de Assistência Social e Psicologia. A equipe médica é voluntária e multifacetada, atuando em diferentes especialidades.

“Eles acompanham o tratamento de Habilitação e Reabilitação Visual até a alta da criança beneficiada. Os pequenos têm oportunidade de voltarem a enxergar e, com isso, terem uma vida com mais conexões, além de terem condições de melhor aprendizado, experiência sensorial e relação com o que está ao entorno”.

Tudo durante o desenvolvimento da primeira infância – feito importantíssimo e que faz total diferença na evolução da criança. “Os casos, em geral, são bastante complexos e com alto teor de superação para além do tratamento de assistência social que oferecemos”. É o que abre espaço para conquistas.

No último mês de agosto, o projeto chegou à marca de mil procedimentos cirúrgicos gratuitos em crianças. Doutora Islane diz que é fruto do compromisso coletivo de fazer a vida ter outra cor. Pessoas de todos os 184 municípios do Ceará são atendidas, chegando inclusive a Estados vizinhos. Força-tarefa para deixar o amor brotar.

“Após o tratamento, e até mesmo durante, as famílias se sentem agradecidas. As crianças pacientes já se sentem beneficiadas pela possibilidade de enxergarem. Aquilo que antes parecia impossível (por não se enxergar, por não se perceber) se torna uma atividade super agradável. A razão de nosso existir é colaborar para que os pequenos possam ver com os próprios olhos e, assim, serem protagonistas das próprias histórias. Das próprias vidas”.

É uma emoção muito grande. O Caviver um dia foi sonho e hoje é uma realidade"

O carinho continua. O Caviver está com planos de expansão para os próximos anos. A sede oficial – no bairro Meireles, em Fortaleza – deve ser beneficiada com mais um ou dois andares, fazendo-a alcançar o selo de Centro Especializado em Reabilitação. 

A ideia é otimizar os serviços oferecidos com foco na expansão da assistência aos pacientes do Perfil Social e também formação para a presença de mais integrantes, aumentando o número de pacientes beneficiados. “O segundo centro cirúrgico também é uma de nossas prioridades”, pontua Doutora Islane. 

“Durante esse período de expansão, estamos com planos para que o projeto tenha também um sala de convenções, uma área de comunicação e marketing mais estruturada e novos consultórios para dar suporte a um ritmo mais intenso de atendimento”. A  beleza, então, é manter viva a labareda do cuidado. Ver a esperança renascer.

É uma emoção muito grande. O Caviver um dia foi sonho e hoje é uma realidade. O maior desejo que podemos ter é a oportunidade de vivenciarmos essa realidade sempre que necessário”. Enxergar de fato, e pelas lentes do amor.

*Esta é a história de amor da Doutora Islane Verçosa por crianças e famílias necessitadas de cuidados na visão. O Projeto Social Conviver fica na Rua Antônio Augusto, 761 – Meireles. Envie a sua história também para diego.barbosa@svm.com.br. Qualquer que seja a história e o amor

 
 

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